sábado, 16 de maio de 2009

Laura 1.

















Laura 1.


Era outono de 1971. O dia estava com uma cor que sugeria a fleuma que a estação deixa, com aquela cor dourada das folhas dos plátanos caídas aos borbotões devido o ventinho frio que corria do mar. Os olhos de Laura perdiam-se no horizonte através da janela da cozinha que dava para o quintal. Bem ao fundo do quintal tinha um pé de louro e um pé de plátano que Laura gostava muito. O louro pelo perfume que ele exalava nos dias de vento, e o plátano pela facilidade com , que ele se despia no outono e com que graça fazia isso deixando um tapete dourado no chão que estalava tão gostoso com os passos de Laura sobre ele. Laura nesta época estava exatamente com 18 anos, uma bela idade, para uma bela jovem, porém muito solitária , por opção, muito mais do que por falta de companhia, pois apesar de muito alegre era dada a solidão, era muito romântica, gostava muito de escrever, isso lhe dava muito alento.
Seu passa tempo preferido sempre foi o mar, nunca entendi o fascínio que ele exercia sobre ela, talvez porque ela se parecesse com ele misteriosa, profunda, calada e ruidosa ao mesmo tempo. Calada em tudo quem se referisse a sua maneira de ver a vida, ruidosa quando se opunham a qualquer de suas idéias, principalmente as escritas, sempre foi muito ciumenta com suas anotações, seus irmãos gostavam muito de excogitar suas coisas e caçoavam muito de seu romantismo. Escrevia muito sobre o mar e seu irmão dizia ,que ela na outra encarnação tinha sido pescador da rede furada, ela enfurecia-se com esse comentário maldoso. Na verdade para mim hoje, tudo o que ela escrevia era tão bonito, não comprometia, era quase profundo um tanto ingênuo , mas profundo.
Li todos os seus poemas sempre fui sua melhor e fiel amiga, sempre estive muito ligada a ela.
Ela era uma mistura do bem e do mal, pois seu gênio era muito forte o que lhe afastava muito das outras pessoas, não gostava de conversa fiada, coisa normal para as moças de sua idade, era seria, apesar de alegre, era grosseira apesar de delicada, pois tudo que fugisse ao seu jeito de ver o mundo não era bom para ela. Ela era excessivamente madura, profunda nos seus pensamentos, leal, muito ajuizada a perfeição para os velhos e uma droga para os jovens. Os rapazes tentavam sempre se aproximar e ela os repelia como se nenhum fosse digno de sua atenção, inclusive certa vez na escola, um rapaz dito popular, o gostosão encheu-se de “boas intenções”, era galante o rapaz , mas burro de mais para ela, pois tentou uma abordagem totalmente infeliz.
Lembro muito bem daquele diálogo :
_ Tudo bem garota, papo firme, gata!
_ Posso chegar lá na baia, tua coroa, não vai chiar?
Ela estava na biblioteca da escola, ela levantou a cabeça, tirando os olhos do livro que estava lendo, olhou quase com desprezo para o pobre rapaz e respondeu:
_Por favor, seria possível a tradução do diálogo, pois é um idioma bem diferente do meu e mais a mais, não moro com sua mãe conseqüentemente não moro em uma baia, não sou uma gata, minha mãe pode ser a minha rainha, mas não tem cara de coroa então, não estamos entendidos SOOOME...
O coitado afinou, saiu de fininho que a porta foi curta pra ele passar.
Ela levantou tão chateada com aquela conversa que saiu rapidamente até esquecendo de entregar o livro que estava lendo .
Laura era muito bonita, chamava atenção, mas era quase impossível alguém se aproximar dela sem causar algum terremoto era extremamente desconfiada, se achava patinho feio, imagina com toda aquela cabeleira negra, com aquele corpinho de pequena sereia, com aqueles olhos sempre muito vivos, uma boca muito bem feita, o nariz sim esse não era muito bonito mas lhe dava um ar exótico . Era muito cortejada e sempre tinha um não diferente , muitos educados quase carinhosos, outros severos quase estúpidos. Laura foi um belo personagem que amou muito o mar, fez dele seu confidente, seu amigo mais intimo, seu quase amante, pois várias foram às vezes que a vi entrar nele com tamanha intimidade , que parecia que ele a abraçava de maneira diferenciada. Parecia que ela era parte dele...
Será que um reino pode sobreviver sem soberanos? Acredito que não , por isso creio que o mar elegeu Laura sua rainha, pois ele
"é seu rei pleno de poderes..."

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